O presidente do Sport, Arnaldo Barros, aproveitou a apresentação da nova cúpula do futebol rubro-negro para conceder uma longa coletiva na manhã desta terça-feira, no Centro de Treinamento José de Andrade Médicis, em Paratibe. Vários assuntos foram abordados, entre eles situação financeira do Clube, eleições para presidente do Leão, patrocínio com a Caixa Econômica e momento do futebol. O mandatário também ratificou seu compromisso em não antecipar cotas de 2019. Confira abaixo alguns pontos da entrevista:
Período sem entrevistas
Eu não deixei de dar entrevista. Entendo que vocês estavam acostumados em ter mais contato mais próximo porque fui vice-presidente de futebol e cabe esse contato direto, tratando da principal atividade do clube que é o futebol. Passei mais de dois anos e nunca deixei de atender à ninguém. Hoje, estou em outra atribuição. Não posso me ater apenas ao futebol. É por isso que agente tem um vice-presidente de futebol aqui. Ele vai atender a imprensa até porque está no dia a dia e melhor equipado para dar as informações que precisam. Em uma situação de cenário econômico adverso que estamos enfrentando em nosso país, preciso me entregar aos problemas que exigem maiores forças. Eu trabalho de 12 a 14 horas. Logo cedo, estou cheio de mensagens para resolver. Tenho até me afastado dos meus afazeres pessoais.
Campanha na Série A
“Eu acredito sempre. Nada no Sport é fácil. Tudo é feito com muita luta. Há quem fale que, se o Sport ganhar os confrontos diretos pela frente, o Sport sai da zona de rebaixamento. Junto com meus companheiros (nova diretoria), fizemos projeções e há realmente chances do Sport sair. É difícil, mas a gente acredita. Não é o momento de jogar a toalha. O momento é de trabalho. Se o tanto que está se fazendo não é suficiente, nós temos que fazer mais. Ninguém pode acusar essas direção de omissão. Nós estamos tentando colocar o Sport no caminho certo.”
Situação financeira
Não há mistério nisso. O Sport está com dois meses atrasados. O mês passado e este mês. Vamos quitar uma folha até sexta-feira e queremos trazer em breve a notícia de que vamos regularizar isso aí. Nosso problema não diria que é de receita. É de fluxo de caixa. O fluxo não está compatível com os pagamentos.
Nós sabíamos da dificuldade. Todo mundo viu que nós mostramos a previsão de déficit na apresentação do orçamento. Nós precisaríamos de novas receitas, de bons desempenhos em campo para equacioná-los. Se algumas dessas receitas se frustram, dificulta o processo. Se algumas receitas são bloqueadas, como a venda do atleta Diego Souza, cujo valor que foi bloqueado é justamente o que corresponde ao déficit salarial. Se esse valor tivesse entrado, nós estaríamos completamente em dia.
Relatório do Itaú BBA
O relatório do Itaú é uma análise do balanço de 2017. O Itaú apresenta as mesmas questões, de forma equivocada, que uns apresentaram naquela oportunidade e que eu tive a chance de esclarecer todos esses pontos quando abordei isso no Conselho Deliberativo e na coletiva de abril. Não se trata de o Sport ter gastado mais do que devia. Até porque estamos num regime de contenção de despesas. Aquilo não foram gastos, foram lançamentos contábeis. Nós somos auditados por uma auditoria internacional, que segue regras contábeis estabelecidas internacionalmente. Lhe digo: segundo a CBF e as empresas que auditam os clubes do Brasil, o Sport é um dos clubes que mais fielmente e mais correta apresenta os seus números e seus resultados. Justamente por conta de fidelidade contábil que nós observamos as regras. Tem lá como despesa, por exemplo, luvas e salários vincendos de atletas que por estarem naquele momento no Sport se fazia essa projeção. Mas que não quer dizer que se execute. Por exemplo, lá tem luvas de Diego Souza, de André, de Samuel Xavier… atletas que não estão mais no Clube e que o Sport não teve essa despesa. Mas no balanço foram inseridas e lançadas devidamente. Na verdade, toda essa situação já foi vencida, explicada e aprovada quase que de forma unanime pelos senhores conselheiros em março. Mas que agora chegou aos analistas do Itaú.
Patrocínio com a Caixa
Já tive oportunidade na entrevista sobre o balanço de explicar o que aconteceu. O Sport tem um planejamento e tem uma expectativa de receita. Aquilo é tudo muito estudado. Tem que ir no limite. No ano passado, nós tivemos no último trimestre o lançamento de um débito originário de 1930 com o patrimônio da união, por uma diferenciação de entendimento se o terreno do Sport é uma ocupação ou era aforamento. Por conta dessa diferenciação de entendimento, foi inscrito na dívida ativa um determinado valor significativo. Não vou dizer o número com precisão. Esse débito é de 1930, mas que agora esse débito foi inscrito. Porque as instituições estão melhorando, se sofisticando, fazendo as suas cobranças. Por isso, o Sport não pôde tirar a certidão negativa na Procuradoria da Fazenda Nacional. Sem tirar a certidão, nós não podemos receber a última parcela do contrato com a Caixa de 2017. Sem esse dinheiro da Caixa, nós atrasamos salário e aí virou uma bola de neve. Nós tivemos a compreensão da Caixa nesse sentido. Conseguimos manter o patrocínio com o compromisso de regularizar essa situação. Dentre outras providências, algumas jurídicas. E nós tivemos que entrar com medidas judiciais para obter a liberação das certidões que são necessárias… Falta uma que fizemos tudo que podíamos. Agora estamos aguardando a manifestação de uma determinada entidade que esperamos que aconteça em breve para que possamos regularizar isso.
Desafios
Administrar o Sport implica em enfrentar essa dificuldade. Nós estamos em uma situação complicada. Não só nós como todo o país. O Cruzeiro, por exemplo, estava com cinco meses de imagem atrasados.
Criticam que não repusemos as peças que saíram à altura. Claro que não repusemos. Não poderíamos. As medidas para sanear o clube nós tomamos. São medidas amargas, antipáticas, que desagradam ao torcedor. Mas precisam ser tomadas.
Erros no futebol
O que deu errado não se resume a poucas palavras. Esse mesmo elenco, com algumas pequenas alterações, é um elenco que chegou a estar em segundo lugar antes da parada da Copa. Nos mantivemos nas primeiras colocações durante algum tempo. Mas não soubemos administrar adequadamente nossa parada. Não é o fato de ter tido ou não amistosos. O desempenho do time não depende de ter ou não amistosos. Mas não tratamos a parada da Copa adequadamente com a inteligência para projetar o retorno com a mesma intensidade com que vínhamos atuando. As outras equipes se movimentaram bem. Agora temos que buscar resultados. Não tem fórmula mágica. É buscar vitórias.
Eleições
Uma questão que tem me impedido de dar entrevistas é que estamos em um ano político. Nós estamos numa campanha velada desde o primeiro dia da nossa gestão. Eu desarmei o palanque desde que fui eleito. Tanto que convidei pessoas da oposição para participar do nosso planejamento estratégico. Isso não quer dizer que tenho que administrar o clube tal qual a visão deles. Tanto que fui eleito sob outra plataforma.
No que diz respeito à candidatura de A, B ou C, eu não tenho o que comentar. Isso é legítimo e faz parte do processo democrático. Todo sócio em dia e que preenche os requisitos estatutários pode se apresentar como candidato. Como cada um vai se portar, isso depende dos valores e princípios de cada um. Eu fiz uma campanha, que vocês acompanharam, em que me portei com os meus valores. De acordo com aquilo que acho ético, respeitoso. E vocês viram o nível da campanha que tive. Quero registrar a lisura e a postura do meu adversário, Wanderson Lacerda. Já fiz isso várias vezes e faço de novo. Foi um adversário leal, um adversário ético. Os nossos debates foram sadios…
Oposição
Quanto ao fato de oito ex-presidentes estarem reunidos… esses oito não estão reunidos de agora. Eles estão reunidos desde antes da minha campanha. Eles estavam reunidos. Esse foi um posicionamento tomado contra a postura do presidente Martorelli. Contrário a gestão do presidente Martorelli. E esse grupo se postou como um reduto de oposição. Legítimo. Eu não tenho o que criticar. E estão se reunindo não é de agora. Desde sempre. Eu, inclusive, fui chamado e fui a um encontro desses. Passei quatro horas num almoço. Prestei todos os esclarecimentos que eles queriam. Debatemos por quatro horas. Ao final, imaginava eu que havia saciado todas as dúvidas, que havia esclarecido tudo. Foi o que eles me passaram. Todavia, depois, eu recebi aquele documento formalizado como se eu não houvesse respondido. Todas aquelas indagações haviam sido exploradas ao Conselho Deliberativo. O que eu leio disso: é que o grande problema não seja Arnaldo. O grande problema é a força política. A ânsia de poder no Sport. E essa alternância de poder aconteceu na minha gestão…
Apoio
Sinto que o Sport está dividido. E isso não é bom. Eu tenho do lado de cá pessoas como João Humberto Martorelli, Gustavo Dubeux, Zé Moura, Aluísio Maluf… Quem nos apoia também: Guilherme Beltrão, Álvaro Figueira. São personalidades notáveis. Lideranças indiscutíveis dentro do Sport. Essas lideranças discordam da gente também. Isso é natural, faz parte do processo democrático. Eu escuto. O que dá para adaptar a gente adapta, mas nem tudo dá para ser feito.